Descoberta a lista que deu origem ao filme “A Lista de Schindler”
Quem não se lembra do filme “A Lista de Schindler”, de Spielberg? Foi através do filme que o ato de Schindler se tornou conhecido em todo o mundo. A lista original foi encontrada misturada a notas de pesquisa e recortes do escritor Thomas Keneally, autor do livro “A Arca de Schindler”, lançado no Brasil com o mesmo nome do filme (clique aqui se quiser fazer o download do livro).
Nem o livreiro, que possuía os documentos, nem a biblioteca de Sydney, que os comprou em 1996, sabiam da existência da lista. Keneally recebeu o documento das mãos de um dos integrantes da lista, Leopold Pfefferberg, há aproximadamente 30 anos atrás, para que o escritor publicasse a história.
O polêmico Schindler
Embora o livro e o filme tenham feito sucesso, o segundo bem mais que o primeiro, parece que a história foi bem romanceada, tanto por Keneally, quanto por Spielberg. Schindler, pelo que constatei em minhas pesquisas, não era esse homem abnegado no qual o filme o transforma.
Segundo Siegfried Ellwanger Castan, mais conhecido como S. E. Castan, polêmico revisionista e escritor brasileiro, fundador da Editora Revisão, acusado por algumas instituições de racista, a história é bem diferente:
- Keneally registrou sua obra como ficção na catalogação bibliográfica brasileira, sob o número 93.480 (página 04, 2ª edição, Record, 1994), isso demonstra que o autor reconhecia sua interferência na história contada;
- Oskar Schindler não era alemão, era tcheco. Ele nasceu em Zwittau-Brinnlitz, na Morávia, atual República Tcheca, em 28/abr./1908 e faleceu em Hildesheim, Alemanha, em 9/out./1974. Tornou-se membro do Partido Nazista após a anexação dos Sudetos (cadeia de montanhas na fronteira entre a República Checa, Polônia e Alemanha);
- não era industrial, mas filho de um pequeno e falido industrial;
- não seguiu os alemães na invasão da Polônia, pois já se encontrava lá desde 1938
- não era nacional-socialista, apenas usava – por conveniência – um distintivo com a suástica na lapela;
- era homem de confiança da comunidade judaica de Cracóvia;
- a fábrica não era sua, mas de um judeu, e não produzia esmaltados, mas material bélico, portanto de interesse militar alemão;
- a lista foi feita por Schindler, mas aprovada por Marcel Goldberg, um judeu tido como o segundo homem da fábrica, que tinha o poder de incluir ou retirar nomes;
- não existe certeza no número de judeus “salvos” por Schindler, em sua sepultura, em Jerusalém – onde foi declarado um Justo –, constam 1.200;
- o maior receio dos judeus eram os poloneses, não os alemães;
David M. Crowe*, em seu livro, escrito após sete anos de pesquisa, “Oskar Schindler – The Untold Account of His Life, Wartime Activities, and the True Story Behind the List”, ainda não traduzido para o português (pelo menos não consegui localizar), também relata que a verdadeira história é bem diferente da mostrada no filme. Segundo ele:
- não havia uma só lista, mas nove, das quais quatro foram feitas por Marcel Goldberg, membro corrupto do chamado Serviço Judaico de Ordem;
- Schindler teria, se muito, sugerido alguns poucos nomes, porque inclusive na época estava preso, acusado de tentar subornar o comandante da SS, Amon Göth;
- a versão de uma única lista foi propagada pelo próprio Schindler depois da guerra.
- antes de se tornar um “benfeitor”, Schindler teria sido um “’perigoso espião de calibre’, comandante da unidade do serviço secreto que planejou a invasão da Polônia. Crowe destaca que Schindler teria se oposto inicialmente à deportação de judeus também para evitar desfalque no quadro de funcionários de suas fábricas”;
- Schindler era um oportunista, principalmente quando, após a guerra, usou e abusou de “seus contatos de amizade com judeus para conseguir vantagens econômicas após a guerra".
- Schindler, o homem, era mulherengo, beberrão e oportunista.
Apesar de achar que os judeus salvos por Schindler tenham uma visão "pragmaticamente romântica" de Schindler, o autor respeita esse julgamento.
Adendo ao caso
Frederico Füllgraf, escritor, roteirista, diretor de cinema e colunista da revista eletrônica “Speculum” e das revistas impressas “Caros Amigos”, “Idéias” e “ETC”, em sua crônica “Emilie Schindler – a crônica que não quer calar”, apresentada na “Speculum”, observa que o papel da esposa de Oskar Schindler foi muito maior que o apresentado no filme. Vai além, relata o descaso de todos para com ela, desde Oskar Schindler (de quem Emille guardava profunda mágoa) a Spielberg. Em sua crônica, Füllgraf define o episódio com o famoso diretor como “um dos mais antiéticos da história de Hollywood”.
“Seu projeto mais importante, porém, o resgate de seu verdadeiro papel histórico na salvação de 1.700 judeus virtualmente condenados à morte, só lentamente emergia das sombras, para as quais ‘historiadores’, políticos e Hollywood a haviam empurrado”.
Entretanto, a própria Emilie resgatou suas memórias através do livro “Eu, Emilie Schindler”, redigido por Erika Rosenberg e lançado internacionalmente na Feira do Livro de Frankfurt de 2001. Parece que, no Brasil, foi lançado como “Memórias - À sombra de Schindler”, mas consegui confirmar esta informação. Não deixe de ler a íntegra da crônica, clique aqui.
* biógrafo, historiador da Universidade de Elon, na Carolina do Norte, uma instituição ligada à United Church of Christ, e membro da comissão de formação do Museu Memorial do Holocausto, em Washington, além de presidente emérito da Associação para o Estudo das Nacionalidades da Universidade da Columbia.
Veja o outro lado da moeda em Leões e Cordeiros.
6 comentários:
Olá Margareth!
Polêmico o assunto. Todos gostariamos de que fossem verdadeiras as informções do filme, até pelo fato humanístico. Cabe a cada um interpretara todas essas contradições para chegar à sua própria conclusão. No momento, após a leitura de seu texto, não tenho opinião formada. Mas vou tentar obter mais dados através de pesquisas. Cismei! rs
Beijo
Diante de toda essa polêmica eu fico ainda com o lado humanitário de Schindler. Quando Schindler deixa de lado a ganância de ganhar dinheiro e se sensibiliza e se solidariza pelo sofrimento dos judeus é o momento que apaga todo o oportunismo egoísta de seus atos anteriores.
Se ele fosse apenas um aproveitador ele não teria gasto todo o seu dinheiro subornando a gestapo para livrar crianças, mulheres e homens do holocausto.
Quem derá que Hitler tivesse sido tocado dessa mesma maneira. A história teria sido outra, menos traumatica.
Beijo mineirinha!
Quando assisti "A Lista..." me pareceu muito bem que o Schindler de Spielberg foi um homem com defeitos e qualidades. Na minha opinião, o filme o mostra mulherengo, que traiu a esposa, oportunista, que se aproveitou de amizades nazistas e de trabalho judeu, etc. Mas o que mais me pareceu é que não foi um filme de judeus bons e alemães maus, e sim, como vi num comentário de um crítico, "um filme sobre a natureza humana".
td escrito até então não muda o essencial do filme, não faria diferença de ele fosse brasileiro, ou americano, nem tão pouco, esmaltados ou calibres, é visível no filme a intesão de se usufruir da guerra para ter lucros, enfim.. não tira o brilho nem do filme e nem do que realmente foi feito q é o q ele fez de diferente
NO FILME É DITO QUE ELE NASCEU NA TCHECOSLOVÁQUIA... --'
Se continuar assim daqui uns anos vão assistir Titanic de James Cameron e ficar pensando que existiu uma Rose e um Jack Dawson, e vai ter na certa algum bobalhão ou bobalhona incautos para repetir como papagaios que existiram mesmo.
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